segunda-feira, 15 de maio de 2017


Cerquei-me de ornamentos e desejos e pensei pensamentos que nunca vi.
Dei aos dias flores e cores que pensei ouvir falar em poemas e excertos,
que de tão certos, surpreenderam uma natural reinvenção. 
Pela palavra própria.
Agradeço-te este fim de vida,
porque me fiz deusa sem saber falar.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Seguro a identidade para não ser esquecida. 
Quero-a maleável e serena. Repousada numa redoma que altera a forma conforme o ângulo. Transporto uma réplica escudada, ignorando atalhos e portos seguros. 
Um dia será importante. Tão importante, que serão braços que me salvam.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Vamos naufragar ali para os lados daquelas ruas. Fabricar histórias para depois as escrever com cuidado. Sempre com cuidado. Criar laços obscenos, daqueles mesmo verdadeiros, afinal trata-se do mesmo.
Desenhar cumplicidade, recortá-la suavemente e usá-la como quem leva uma colher quente aos lábios.
Vamos naufragar ali para os lados daquelas ruas.Exercitar a alma, deixá-la sentir a calçada que estará macia, seguramente.
Projectar uma qualquer dança na sombra e festejar essa espécie de criação. Absorver o silêncio e ouvir apenas o que quisermos - não tardará uma ténue (que se adensa) melodia.
Vamos naufragar ali para os lados daquelas ruas. Dar largas ao vôo oblíquo e sintetizar o sentir. 
Sintetizar o sentir.

sábado, 23 de maio de 2015

Quero, mais uma vez quero, uma alma de carne. Estrelada e com falhas. Uma alma voluntária, de granito e de mar.
Quero, mais uma vez quero, uma única alma de magma.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Os arcos das luzes quando fechamos os olhos, as pétalas de flores que nunca vimos - num baloiçar rente ao chão - o quente das chaves de portas fechadas, ou o verão que nos deixa acreditar, mais uma vez, no que nunca pensámos sequer.
Faz-se uma rede para não ser doloroso, mas faz-se também sem saber, o que enaltece esta arte inigualável de um requinte purpúreo que roça o irrepreensível. Uma hipótese de acamar nas núvens, seja longa ou curta a queda. E por aqui vamos, porque os poucos que não aceitam, ou simplesmente não sabem porquê, são vários, sendo ou não a mesma pessoa. 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Inquietude. 
A minha voz na tua, de olhos abertos, num ritual não praticado, mas vigente.
Em qualquer momento, como quem sonha um abismo, mas desenha céus de estrelas apagadas.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A culpa é dos finais. Aqueles que implicam um não te percas. Um único, tão só assim. Um desarranjo, porque a vida nos mata ao segundo e eu posso adiar a dor por intervalos. Porque esses instantes me afogam e eu gosto do declive. Não faz sentido estar sempre à superfície, se ao fecharmos os olhos durante a descida, lavamos as esporas e somos simples e irremediavelmente reais.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A tristeza é tão grande, que lhe sinto o peso, o perfume. Abraça-me e enleia-se nos poros. Serve-me nas noites mais frias e, dimensionalmente, cala e segura-me as mãos reservadas.
Mas o Inverno vai acabar, e o calor deste profuso abraço vai-me afogar. 
Por camadas. 
Como escadas que eu não quero descer.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Ontem sonhei com cavalos sem cabeça. Dançavam ao som de uma harpa feita de cordas de navios afundados.
Através do chão de acrílico ou gelo, consegui ver as cordas esticadas. Aquela forma de ver até onde a vista alcança.
Compreendi que ali iria abismar os abalos e as futuras infinitas réplicas. Ficariam protegidos por uma singular e macia ordem secreta. 
Submersos, como se nunca tivessem trespassado a película das artérias.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Por vezes afundo-me, e quando sinto as arestas da descida arranhadas no meu contorno, fecho os olhos com força e sigo.
Suspensa, como que à deriva de coisa nenhuma.