domingo, 18 de maio de 2014

A saudade tem som. Um som que se propaga, mesmo que fechemos os olhos.
Gradualmente insinua-se na nossa pele, no nosso contorno.
Ao abrirmos os olhos, ela sorri, pois não a vemos, mas fazemos a gentileza de a transportar. Ao colo, de preferência. Com um carinho e ternura silenciosos.
Em oposição.
Palavras. Sensações na ponta dos dedos, pressionadas e desvalorizadas.
Automaticamente.
A alma transformada num fundo branco, e a final contemplação do conjunto. 
Aniquilar a pressão é sempre compreensível e não carece de justificação

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Fico por momentos encantada à janela do meu quarto.
Tem vista para plantações de nenúfares 
e de tudo que eu quiser.
É isto o amor.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Nos meus braços terás sempre o teu sítio. Nunca foi moldado, mas está aqui, e não caberá mais ninguém.
De mim, terás sempre um sorriso. Um dos vários que tenho, mas ... aquele em particular.
Destinado a alguém como tu - sorrisos que despontam sem ensaio, 
porque nada em mim é recriado.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Assim se constrói a viagem que eu não queria abandonar.
Falo de gestos, de uma linguagem sem igual.
Um olhar de perto, e nos corredores dessa vida, um túnel de paredes finas, como se a qualquer momento, um deslize as derrocasse.
Um toque de mãos, que queima numa euforia, quase plácida. O rasto dos dedos fica. Ficou.
Um beijo, e outro, e um novo quarto ou divisão. Uma espiral de sensações, como quem vai ao fundo da alma e permanece. Sem respirar, mas sem morrer. Um pouco de cada vez, talvez.
Descer e entrar na vida. No profundo, no segredo, onde cada sensação é um choque, como o toque de um espírito, que nos arrepia, mas que nos motiva a prosseguir (de coração nas têmporas).
Ir além de mim tendo a consciência que estou submersa na melhor viagem que me foi concedida - todos estes fragmentos ou secções ... 
Pequenas janelas gravitacionais, ascendentes ou descendentes, ou simplesmente a vida desprovida de quaisquer filtros.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Se nada me resta, se as ideias me fogem e a memória me trai,
se a pele não seca, se os campos permanecem. Dourados.
Se este céu que se abate ainda me pesa no peito,
se os ciclos são círculos de ruído. De cores.
Se o entardecer ainda me agarra a garganta e me sussurra 
sabores de mil flores azuis...
Se eu não sei sair daqui...

sábado, 26 de abril de 2014

Lamento tanto que os meus dias não sejam coloridos como eram,
que só de te ver, toda a inquietação do mundo era minha. 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Custa-me pensar nos momentos
em que sem uma palavra, falámos dialectos.
Espontâneos e sempre renovados.
Não criámos rituais.
Criámos. Apenas.
E sem precisarmos de nos saber de cor,
o mundo desabava de igual forma.
Tudo feito por nós.
Ao ínfimo pormenor.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cabes no meu peito
com todas as ruas da minha infância, todos os entardeceres de quando era feliz,
ou os meus pés descalços naquela terra...
Serás sempre o mundo admirável que desconhecia,
a outra face das minhas outras infinitas luas,
o final da busca que nunca, nunca me preocupei fazer.

A alegria genuína de te ver
como quem olha para uma miragem sob um céu sem estrelas...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Durante noites suadas de verão,
estiveste na marca dos meus lábios.
Molhados e sabiamente pressionados no vidro.
Vejo-te da janela do meu quarto.
Já lá estiveste reflectido. 
Em reflexões.