sábado, 8 de fevereiro de 2014

Hoje eu queria ser criança. Voltar atrás, às minhas férias. As noites de verão eram sagradas e eu contava estrelas durante horas. O anoitecer era morno e o por-do-sol tingia de vermelho os campos. Era criança, mas sabia que assistia a pequenos milagres, inspirando profundamente o cheiro das árvores. O cheiro quente, o som do chão quando se pisa algo que não é plano, tudo era grandioso. Os montes, o céu, até as portas e as cadeiras das casas.
Guardei ao longo dos anos a sensação, e por vezes, uma simples música ou um simples cheiro, trazem-me estas memórias.
O mundo era mágico, e hoje eu queria voltar a ser criança e abraçar-me sentada no alpendre. 


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

E os momentos tornam-se curtos, contados em pulsações
(à semelhança de uma chama).
E eu sei que te desejo mais, quando o meu querer foi antes de voltar,
e é também nesse trajecto.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Se pudesse gravava-me uma memória.
Talvez na sombra mais recôndita da alma, para nunca mais me esquecer.
Nem dos tons, nem das luzes, nem da fantástica
irradiação da corrente sem fim.
Uma cheia inabalável, que flui e irá sempre ultrapassar-me.
Deito-me na penumbra, espalho o meu cabelo e vejo-me de fora.
Morna no contorno das pernas estendidas. O corpo ligeiramente arqueado, confortavelmente recortado pela luz da tarde.
Flutuo na saudade.
Flutuo na saudade.
Era a isto que eu chamava de vida.
Um misto de sangue e de ternura,
querer tanto e querer assim.
Eu não sabia como era,
mas nunca quis morrer já morta.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

E os dias ficaram longos como uma viagem sem destino
num auto-conhecimento fascinante.
Mil vidas que pudesse viver, escolheria esta.
Inequivocamente.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Sensifica o plano onde o meu e o teu corpo se reconhecem em quebras. Quebras de silêncio, de muros, que deitados por terra deixam que se queimem os sulcos. Por fases. Surpreendentes fases. 
Desagua sem limite.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Só tu trazes contigo os meus eternos e mais invulgares segredos. E serás sempre assim.

domingo, 20 de outubro de 2013

Trago-te essencialmente na cabeça. Uma forma de pensar - um código, conduta ou alquimia.
E entre dias e espaços no tempo, tenho-te na memória. Tão física, que me dói.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Dou por mim a pensar sobre frases que nunca escrevi. Momentos que não legendei. Por vezes não devemos escrever sobre eles. Ficam no encantamento dos ponteiros do tempo. Assim, a memória não nos atraiçoa, embora não nos liberte. Há momentos indizíveis. Tão grandes que não cabem nas palavras.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Faço por guardar, já com pó evidente, as palavras, porque de nada me servem. Resto eu, inteira, nua, crua e macia, ali deitada. Espero entender porque me abro, sabendo de antemão a resposta. Mas insisto, embora nunca tenha conseguido alcançar o teu alcance e apenas sei que a minha carne gosta de ser chamada de carne. Que a espantosa ternura que por ti me escorre, permanece. Sem conflito. Que este lugar onde me encontro, seria um matadouro de sonhos, mas eu fervo de realidade.
O meu tempo e a saudade são verdadeiros - tão intrínsecos, tão tangentes. 

Metade de mim, deseja-te. A outra metade, deseja-te e guarda-te com delicadeza sem te dobrar.