segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Faço por guardar, já com pó evidente, as palavras, porque de nada me servem. Resto eu, inteira, nua, crua e macia, ali deitada. Espero entender porque me abro, sabendo de antemão a resposta. Mas insisto, embora nunca tenha conseguido alcançar o teu alcance e apenas sei que a minha carne gosta de ser chamada de carne. Que a espantosa ternura que por ti me escorre, permanece. Sem conflito. Que este lugar onde me encontro, seria um matadouro de sonhos, mas eu fervo de realidade.
O meu tempo e a saudade são verdadeiros - tão intrínsecos, tão tangentes. 

Metade de mim, deseja-te. A outra metade, deseja-te e guarda-te com delicadeza sem te dobrar. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Abate, reduz e aniquila
ao ponto final, recta tangente,
que resiste em não resistir.
Dá-me os braços,
magoa-me, 
espreme os minutos e derrama-os
ao acaso, mas certeiro.
A omissão pode ser simplesmente perfeita

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Se a vida fosse escolhida, como um dia de chuva, 
levava-te pelas mãos nas ruas desta cidade.
Não te diria uma palavra, mas saberias escutar-me,
nem voltaria a sentir, nunca mais, a minha própria ausência.

sábado, 7 de setembro de 2013

O tempo pára. Estagna de forma ambígua
As ruas e as pessoas são agora quadros perfeitos.
No fundo, tudo permanece inalterado.
Fecho os olhos e és só tu.
Só tu.

Estar contigo é matar o que me rodeia.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Vejo a vida. Em crescendo. Nunca o oposto.
Porque em ti nada morre.
Em ti correm rios, turvos, secos,
mágicos e indizíveis.
Em ti corre o nada que depois
se faz tarde ou cedo demais.
Pode não ser coisa alguma, 
mas daqui a instantes invades-me. 

E é por isto,
É por tudo isto.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013



Se eu pudesse, trazia-te nas vagas macias e deitava-te nas minhas pernas flectidas.

Seriamos vidas como tantas outras, mas menos distantes.
Menos distantes e com asas feitas de pele.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Vi um homem que olhava para as suas mãos pousadas. Sempre que levantava os olhos, estes brilhavam num pedido.
Vi uma mulher que se olhava ao espelho com vergonha que se notasse, e o guardava para depois o voltar a tirar. Incessantemente.
Vi uma criança no colo da mãe. Agarrada ao seu pescoço num sono tão descansado que só a inocência pode proporcionar.
Vi toda a gente com as suas transparências difíceis de não notar. Tão claros e sobrepostos que estavam. Uns através dos outros.
Vi-me a mim. Sentada a desejar que ninguém estivesse triste, ou a minha viagem acabaria ali.
Por vezes, a vida é insuportável.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Tantas vezes te sonhei e troquei
para não esperar mais porque já era tarde...
Mas não era.
Agora vejo que não era.
Por isso, páro o tempo, 
e ao segurá-lo,
doem-me as mãos.
E a alma.
Mas sei parar o tempo por ti.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Quero que o suor se misture
daquela forma que atrasa o pensamento
ou simplesmente faz parar o tempo.
Quero-te desta forma primária
e suave ao mesmo tempo.
É este o meu instinto.
Não sei quem sou.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Tenho a alma desarrumada. 
Sempre tive o cuidado de ter tudo nos devidos lugares.
Eu costumo estar aqui. 
À esquerda, a segunda razão, porque a primeira está à direita.
O resto, está por graus de interesse. Em sectores próprios. 
Embora desarrumada, encontro mais espaço... 
Incomoda-me, mas respiro melhor. 
Complica-me, porque tenho de contornar.
Perturba-me, porque me leva a calma dos dias suaves.

Tenho a alma desarrumada,
mas neste caos avisto o paraíso que qualquer inferno deve ter.