sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


Sigo de olhos postos na multidão
sentindo o vento da sua passagem,
e penso como viverão e onde acontece.
Alguém passa por mim com olhos de dor, amor,
alguém passa por mim com olhos de lascívia, de fome.
E eu não sou ninguém porque não estás
nem ouço as palavras que me lançam, porque não sei.
Sou todos eles por fracções
e absolutamente nenhum, separadamente.

Quero este quarto. Obscuro, soturno.
Usar o sexo das estátuas e dos vultos.
Quero raiar de vermelho as cortinas pesadas
das janelas para o fim do mundo.

É isto o meu desejo de ti.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013


Trago em mim este tesouro.
Feito de almas tortuosas e afáveis,
de saudade e de paixão.
Trago tudo isto
sem estacar nas subidas,
porque é urgente a caminhada.
Se soubesses como assim se morre infinitamente,
como a morte de um só dia
é a alma do que virá.

Trago-te em mim se não te encontrares...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


Deita-te comigo num sono desalinhado
Saberei tocar-te, desejar-te de forma imprópria.
Serei mil viagens no teu cérebro.
Todas as cores, sabores e seres vivos.

A agonia deve-se mastigar lentamente.


Chama-me. Inflama-me.
Sei como te fazer.
Morrer. Gritar por dentro.
Pedir, pede-me.
Tudo. Eu dou-te.
Redobrado, extasiado.
Ao limite.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


Deste aos meus dias a extravagância,
a alma maior.
Tens contigo a essência que não desconheço
(mas nem sei de onde vem).
Deste ao meu corpo nu, planos e perspectivas,
à lisura da minha pele, as tuas mãos enterradas,
e eu não suporto nem sustenho
esta sede e esta fome,
este inferno que em mim colapsa.
És tudo isto.
Pequenos focos de sol por entre as frestas dos dias, dos meus dedos.
Luares memorizados em noites dolentes, insuspeitos olhares trocados.
És tudo isto para mim, sem te amar.
Sou permeável até aqui,
mas ainda assim, és tudo. 
Isto.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Dou-te o céu e o inferno perfeitamente equilibrados
numa medida que não se calcula, apenas se sente.
Toca-me. Sente-me muito. 
Toca-me fundo enquanto sou tenra,
enquanto te quero agora e mais do que nunca.
Enquanto a minha pele ainda brilha, escorrega e se entorna
nas palmas das tuas mãos.
Um espelho, uma ode, a perfeição.
Chama-me.
Leva-me ao fundo.
O quente da tua boca dissolve-me.
Quero olhar-te como quem dilata os olhos
numa qualquer viagem, quadro, tela.
interiorizar-te, para não ficar assim.
Absorta, a tentar visualizar linhas. Linhas curvas, não rectas.
Perdi-me neste caminho que também não pedi.
Algures, num dia comum de tão desigual.