sábado, 2 de fevereiro de 2013

Dou-te o céu e o inferno perfeitamente equilibrados
numa medida que não se calcula, apenas se sente.
Toca-me. Sente-me muito. 
Toca-me fundo enquanto sou tenra,
enquanto te quero agora e mais do que nunca.
Enquanto a minha pele ainda brilha, escorrega e se entorna
nas palmas das tuas mãos.
Um espelho, uma ode, a perfeição.
Chama-me.
Leva-me ao fundo.
O quente da tua boca dissolve-me.
Quero olhar-te como quem dilata os olhos
numa qualquer viagem, quadro, tela.
interiorizar-te, para não ficar assim.
Absorta, a tentar visualizar linhas. Linhas curvas, não rectas.
Perdi-me neste caminho que também não pedi.
Algures, num dia comum de tão desigual.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Agora tudo em mim é lento.
O que faço a esta ternura?
O que faço, se ela se solta das minhas mãos,
serpenteia no chão como uma dança, 
e me chama para me lembrar.
Todos os dias.

Amanhã também.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013


Ser feliz é capturar a vida e saudar infinitamente o pensamento.
Reconhecer que é breve o instante, e fazer dele um milagre ou um prodígio de cada vez.
Ser feliz é conhecer profundamente o mal e ser real
sem negar que a nossa essência contém duas metades.
A dualidade dá-nos corpo, faz nascer modos de vida fascinantes
e com ela, produzimos sonhos. 
Vertiginosos sonhos de montanhas azuis guardados em qualquer parte do nosso corpo.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


Não devemos procurar o fácil, o compreensível, porque não sabemos seguir trajectos lineares.
Nem nós somos assim.
Faz-me falta a ténue sintonia, o olhar de ver nos olhos.
Faz-me falta o que não descobri mas já conhecia, sabia, o que não cheguei a guardar, mas levei.

Por esta mágica percepção, escrevo.
Para quem me relembrou esta forma de caminhar na vida.

Se me posso esquecer?
Sim, claro. Quando os momentos em que não te penso
são urgentes de qualquer coisa, porque o que me invade é
triste como campos floridos.
Sim, um dia. 
Quando metade da minha alma se deparar com o resto.
Quando o resto dos meus dias se ordenarem como livros,
e os meus sentidos forem medidos metodicamente
com a ridícula vulgaridade que se pretende.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013


Existem momentos valiosos que por o serem, acontecem apenas esporadicamente.
Dependem da reciprocidade, do genial que contêm, da obscura cumplicidade.
Dependem do significado, do dialecto implícito, do ritual da expressão.
Uma sofreguidão só facilmente entendida por quem a deve entender.
A felicidade, por fases, é dos inconformados.
De ninguém mais.
Se dentro de todos nós existem demónios, deixemo-los viver.
O que seria da vida sem este crepitar na consciência?

Acho a vida muito simples de viver. Talvez até demasiado.
Ou serei eu complexa demais e por isso a entendo assim?
Admiro no entanto os seus ténues sinais e subtis indicadores de percurso.
Trocamos a alma por horas, coisas que medem o tempo
quando se deve deixar fluir. Não é isso a liberdade?
Demasiado complexo? Não se deve indagar. É relativo.
A coragem faz-nos sim complexos e inteiros. Com propósito.
Sempre achei que confrontar algo, na proporção correcta,
é de uma inocência sublime.