terça-feira, 1 de janeiro de 2013


Ainda sobre o amor...
Não queiramos que nos chegue, nem devemos falar sobre ele.
Está lá longe, a aguardar o dia que não vai chegar.
Está sentado sobre si mesmo, sem rumo, sem ajuda, mas não arrebatado.
Esta vida que te dou, é incondicional. É densa e plena.
A mais pura perversão na forma terna, lenta, admirável, porém confusa.
Uma alquimia inigualável que é minha,
porque de outra forma é difícil viver.

domingo, 30 de dezembro de 2012

O amor age como uma praga. 
Arrebata todas as faces da felicidade. Tudo se enreda e transforma.
O amor cria interregnos na vida, agarra-nos pelos ombros, sacode-nos para longe e não tenciona resgatar-nos.
Prefiro a sensatez do encantamento.
Este que me embala, que me seduz, que me eleva a estágios indizíveis. 
Este, onde habita parte de ti e o meu todo.
Um desajustamento perfeito.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Estar. Simplesmente estar.
Basta-me e preenche-me.
Ultrapassa-me, mas não me surpreende.
Esta rendição por ti e contigo.
Tão somente por estar.
Somos seres inteiros, de passos previamente traçados e
devidamente imunes. Não deixamos de sorrir nem de criar laços,
muito menos nos privamos das fases onde a felicidade se atreve.
Mas eu quero esta seita de vivências, de momentos onde realmente estou, porque tudo em mim é sentido e digerido num sôfrego caos, 
num abraço lento e descuidado.
Eu quero o além disto e o oposto de ontem
o que virá desconhecido, ou já foi, amanhã ou depois.
Eu quero usar os teus dedos nos meus. De mãos apertadas
ou só tocadas.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012


O desejo é uma arma carregada, um fogo suspenso.
A vontade de gerar uma réplica, de termos dois corpos em vez de um. No outro.
A vontade de perscrutar todas as partes com o dobro das mãos.
Uma tríade, onde nós seremos sempre nós. E o outro.
O desejo é isto. Um interminável e fantástico declínio. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

E eu seria mais eu um dia e tu saberias de mim como quem não tem medo da morte.
E eu seria mais eu um dia e vaguearia sem sentido, numa ausência premeditada para que pudesses acreditar em mim.
E eu seria mais eu um dia se te tivesse comigo.
Um dia.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Os viajantes do pensamento


Acordei a pensar que há coisas que não se devem dizer. Palavras inomináveis. Simples palavras que alteram o estado de espírito e que causam geralmente mau estar.
Acordei a reflectir no estado mágico, commumente conhecido como estado de graça.
O estado mágico contempla sensações, atitudes, palavras, visões, enfim, é o condutor perfeito para o mais eficaz estado de alienação.
E existem as coisas que sabemos e que não dizemos que sabemos porque se o fizermos, perdem a força e chegam a ser inconvenientes.
Há assim uma necessidade de conter a impetuosidade, quase uma obrigação. Refiro-me a um simples observar a atitude de alguém que se esforça por parecer estar confortável, a um olhar que não deveria ser detectado, a um sem número de sinais que são evidentes mas que não assumimos perante outra pessoa, porque o estado mágico assim o determina.
Sim, nós sabemos muitas coisas e guardamo-las porque gostámos que não fossem expressas. E os outros sabem que nós sabemos. E nós sabemos que eles sabem e sorrimos.
Sim, nós aprendemos sozinhos a observar o mundo e estas pequenas formas de magia, mas nem todos o sabem fazer.
Sim, só viajantes do pensamento como nós, podem gostar de guardar certos momentos, certos descuidos emocionais intencionais. 
Nós que apenas por observação, conseguimos absorver uma pessoa até a "esvaziar" e que por isso, carregamos um peso incomensurável. 
Desengane-se quem possa achar monótono. Temos o guião e sabemos os passos, mas não deixamos de nos emocionar ao assistir ao milagre da interpretação.
Confuso e incompreensível? Este texto vai para quem reinventou esta forma de caminhar na vida. 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sinto-me bem, sempre me senti assim comigo. Como uma louca comunhão, cheia de cumplicidade, mas sã.
Sei que tudo que faço é porque o sinto. E por vezes, sinto demais.
Excesso de vida? Como se a vida fosse uma sequência de sentimentos... E será que não é?
Nesta minha vida plena, mas estranhamente controlada, cabes tu. Em fracções, distribuído por momentos, paisagens, sentimentos ou viagens.
Não era expectável, mas por aqui andas, nos meus sonhos, nos meus preciosos momentos de solidão, nas minhas palavras tão íntimas.
Nem sei porque digo isto, talvez o faça em forma de homenagem, porque sempre falei comigo. 
Nem sei porque estás aqui.
Nem sei que coisa é esta.
Nem porque te guardei assim, com pressa. 
Não me deixes ir.
Sou destemida. Vou, mas saberei voltar?
Não me deixes ir.
O que serei eu sem ti cheia de dias e tempos mais?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Um dia

Um dia experimento escrever a noite inteira. 
Escrever sobre tudo, mesmo sobre ti. Tenho sempre esta sensação de delírio quando completo um texto. Como um orgasmo. 
Ao mesmo tempo, o que escrevo parece levar-me a ti, por caminhos sinuosos, como uma linha telefónica. Invisível, mas de néon. 
Provavelmente tudo está interligado, e assim começam muitas vezes as minhas viagens cheias de cor, de sabor, porque estas coisas vêem-se e saboreiam-se.
Hei-de escrever sobre a fragrância de determinados momentos. Partes que pararam o tempo num desafio inimaginável e que eu presenciei.
Despedidas aparentemente vulgares que me encheram a alma, instantes que ganhei e guardei nos lábios para saborear com atenção mais tarde.
Mais tarde quando fico sozinha e chamo a mim quem eu quero. Uma redoma que basta agarrar, que me leva por minutos e me sacia.
Um dia experimento escrever a noite inteira.
Escrever sobre tudo, mesmo sobre ti.